De musas inspiradoras à protagonistas da criação
A luta feminina diária por espaço e visibilidade no mercado editorial
“Mulheres
Antes meninas
Porém, mulheres.
Femininas
Meninas
Mulheres.
Meninas-moças
Foram meninas
Serão mulheres.
Senhoras
Foram meninas
Foram meninas-moças
São mulheres
Todas mulheres.”
(Poema “Mulheres” – Mauro Felippe – livro Nove)
Desde os primórdios, a arte mantém uma relação com a sociedade oferecendo crenças, valores e tendências. Dentro desse contexto, a mulher aparece idealizada como musa inspiradora do eu-lírico masculino. Com o passar do tempo, o papel de musa mudou, conforme as correntes artísticas e literárias, mas além disso, a mulher deixou o lugar de musa para protagonizar a produção das obras.
Ainda assim, não são poucas as barreiras que as mulheres enfrentam para viver o sonho de ser escritora. Considerando o Prêmio Nobel de Literatura, desde 1901 até à edição de 2014, somente 12 mulheres foram agraciadas com a premiação. No cenário nacional, a Academia Brasileira de Letras já contou com 208 sucessores para suas seletas 40 cadeiras. Desse total, apenas 8 mulheres integraram o grupo.
A clara desigualdade no mercado editorial entre homens e mulheres é histórica, uma vez que as mulheres tiveram menos oportunidades de alfabetização e acesso à literatura durante séculos. Além disso, a lenta e gradual inserção da mulher na sociedade fora do papel de musa inspiradora – não mais apenas cuidadora dos filhos e do lar, mas independente – contribuiu para a construção do cenário atual.
Felizmente, hoje, os índices de alfabetização entre homens e mulheres são equiparados, mas a luta feminina por espaço e visibilidade no mercado editorial ainda é diária. -Por que existe uma sessão apenas para literatura feminina? Ou, por que há uma nítida disparidade entre as escritoras mulheres e os escritores homens expostos em mostruários nas livrarias? De acordo com uma pesquisa realizada pela escritora e crítica literária Regina Dalcastagné, 72,7% dos escritores brasileiros são homens.
Há anos, as mulheres estão em luta, seja por questões mais amplas como o direito ao voto, ao trabalho, ao salário equivalente ao do homem. Mas é preciso identificar e dar voz também às mulheres em setores mais específicos, como é o caso do mercado editorial. É preciso entender que não é mais apenas musa inspiradora. A mulher está conquistando cada vez mais espaço e se tornou protagonista da criação. Ela escreve, produz literatura de alta qualidade e a tendência é que elas destruam cada barreira imposta, assim como já destruíram inúmeras outras.
Força!