O trabalho que dignifica e mata o homem

“O trabalho dignifica o homem”. Quem nunca ouviu essa frase? A sentença é realmente verdadeira. Além de prover o sustento, trabalhar contribui para o bem-estar e a saúde mental dos indivíduos. Mais ainda, promove a realização pessoal, o sentimento de utilidade e contribui para a construção da autoconfiança. No entanto, para que o trabalho verdadeiramente dignifique é preciso equilíbrio.

Durante a chamada Revolução Industrial, no Século XIX, os trabalhadores exerciam suas funções sob condições degradantes. Sem direitos, com jornadas que ultrapassavam 12 horas diárias, sem segurança, em condições insalubres e com salários baixíssimos, frequentemente, esses empregados sofriam acidentes nos locais de trabalho ou eram acometidos por problemas de saúde.

Em Chicago, as péssimas condições de trabalho levaram funcionários a se mobilizarem e organizarem uma série de protestos em 1º de Maio de 1886. As manifestações persistiram nos dias seguintes, mas foi no dia 4 que tomou visibilidade mundial. Durante o protesto que acontecia na Praça Haymarket, uma bomba explodiu, matando manifestantes e policiais. Após a explosão, a polícia abriu fogo contra os manifestantes e o movimento dos trabalhadores passou a ser duramente reprimido. No mesmo dia, muitas trabalhadoras também foram assassinadas em um mesmo local, fato este em foco até os dias de hoje. Assim, nascia o Primeiro de Maio, Dia Mundial do Trabalho.

No Brasil, segundo a historiadora Isabel Bilhão, as primeiras manifestações trabalhistas datam de 1891 e se colocaram a favor da República recém-instaurada no País. As manifestações exaltavam a classe trabalhadora, além de oferecerem apresentações musicais, disparo de fogos de artifício e passeatas.

Apesar disso, foi no governo de Getúlio Vargas que o Primeiro de Maio passa a ter grande importância, principalmente, por conta do Projeto político que visava a aproximação com a classe trabalhadora. Os eventos enfatizavam valores cívicos e de ordem, além de servirem como palanque para os discursos de GV e anúncio das medidas tomadas pelo Governo em prol da classe, como o Decreto da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), férias remuneradas e o salário mínimo.

Apesar dos avanços, a classe trabalhadora, hoje, ainda enfrenta diversos desafios. De acordo com Jeffrey Pfeffer, professor de comportamento organizacional da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, anualmente, estima-se que o trabalho seja a causa da morte de 120 mil pessoas por ano só em solo estadunidense.

Já no Brasil, os dados da Previdência Social apontam que, de Janeiro a Setembro de 2018, 8.015 licenças (benefícios) por comportamentos obtidos no serviço e transtornos mentais foram concedidas pelo INSS. Um aumento de 12% em comparação com o mesmo período no ano anterior. Ainda, o Brasil continua sendo um dos campeões mundiais em acidentes de trabalho, principalmente os com morte. Portanto, é verdade sim que o trabalho dignifica, mas sem garantias, direitos e, principalmente, equilíbrio, ele também mata.

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